quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Capítulo 4 - Realidade


Ouvi alguns barulhos ao longe, mas não consegui me mover. Parecia ser a campainha que foi tocada por diversas vezes, seguida de um forte barulho e um silêncio por completo. Ouvi alguns passos de pessoas subindo as escadas, tentei abrir os meus olhos, mas o pouco que pude apenas me revelou imagens desfocadas. Ainda com a cara nos cacos de vidro do espelho notei uma sombra próxima à porta do quarto. Essa mesma sombra andou para perto da cama, sentando-se na mesma. Sapatos. Foram as únicas coisas que eu consegui identificar, e seja lá quem estivesse ali naquela cama, era uma mulher. Girei meu rosto um pouco para cima tentando poder enxergar e com algum esforço tentei me levantar do chão, sem sucesso.


- Antes morta do que ter que ver uma cena dessa...
- Michelle? –Perguntei, ainda sem muita força na voz.

Michelle era a irmã mais nova de Dianna. Nossa relação era bastante amistosa, sempre ajudávamos uns aos outros quando possível. Michelle morava há quilômetros de distância, mas Dianna fazia questão de visita-la nos verões. As irmãs eram bem apegadas.


- Maldito! Sabe quantas vezes eu tentei ligar para você, Patrick!? – Disse ela, levantando-se – Já fazem três dias que eu estou tentando obter notícias de como vai ficar o funeral de minha irmã e você aí, enchendo a cara! Provavelmente deve estar achando que isso vá melhorar alguma coisa!

Não consegui prestar muita atenção nas acusações que Michelle disparava contra mim, apenas me atentei a uma coisa... Três dias... Realmente, eu tinha perdido toda a noção do tempo além da responsabilidade que deveria ter para com Dianna agora.

- O pessoal da Henry & Clarkson também ligou inúmeras vezes para você! Eles precisam de alguém para escolher o caixão da minha irmã, e como você não atendia a porra do telefone eles ligaram para o próximo nome da lista, o meu! Perdi a conta de quantas horas eu tive de viajar para fazer a tarefa de um bêbado irresponsável!

Em algum momento da história alguém havia dito que contra fatos não há argumentos. Tentei me levantar novamente, dessa vez apoiando-me em tudo o que conseguia encontrar. Cambaleei em direção ao banheiro sem direcionar uma palavra sequer à Michelle e fechei a porta.

- Eu preciso de um minuto. Já vamos cuidar disso. Desculpe-me mesmo.

Os eventos a seguir não tiveram nada de interessante. Michelle permanecia sempre comigo, principalmente na escolha do caixão de Dianna juntamente com Henry & Clarkson. Talvez a única escolha que eu jamais pensara que iria fazer. O pessoal da agência funerária foram bastante cordiais conosco, demonstraram seus pêsames e seguiram com os seus negócios.

Sem muita conversa na volta para casa. O único momento em que tivemos uma conversa de verdade foi quando Micheller perguntou se teria problema em ficar no quarto de hóspedes já que gastou todo o seu dinheiro durante a passagem. Eu não poderia negar essa ajuda, já que a deixei esperando por pelo menos três dias.